sexta-feira, 28 de março de 2014

TAPETES DE RUA - SÃO JOÃO DEL REI

                          "Vistos assim, do alto, mais parecem o céu no chão ...”
 

Confeccionados com areia, serragem, sementes e pétalas, tapetes de rua retratam a paisagem celeste nos paralelepípedos de São João Del Rei.
A idéia de recriação nasceu numa Quinta-feira Santa, em 1983 .

Já faz alguns anos que as ruas de São João Del-Rei, durante a Semana Santa, apresentam um novo atrativo que encanta sanjoanenses e turistas: os delicados tapetes decorativos. Especialmente aos sanjoanenses, essa expressão cultural atrai duplamente, pois além de admirá-la, eles podem participar de sua produção e, assim, ser protagonistas de uma ação criativa que demora oito, dez horas para ser realizada, mas é muito efêmera. Em quinze, vinte minutos, o céu no chão se desfaz sob o caminhar de anjos, virgens, virtudes, reis, profetas, heróis, apóstolos, guarda romana- personagens do Velho Testamento que, voltando no tempo, vêm à frente do Senhor Morto na procissão do Enterro de Sexta-Feira da Paixão.

Enfeitar ruas para procissões é tradição em diversos países católicos e forrar as ruas com folhas e flores também é comum em países da Península Ibérica e da América Central. Nas velhas cidades brasileiras, essa manifestação evoluiu para a confeccção de tapetes de areia, flores e serragem, ilustrados com a iconografia de símbolos religiosos. Em São João del Rei, os tapetes são tão criativos, minuciosos e delicados que é impossível não considerá-los sofisticadas obras de arte. Extremamente breves, passageiros, mas obras de arte.

Onde tudo deve ter começado ...

Revirando documentos históricos, vemos que não é de hoje que o povo de São João del-Rei tem gosto especial por produzir expressões artísticas passageiras, criadas especialmente para fatos importantes. As Exéquias de Dom João V, por exemplo, realizadas em dezembro de 1750 não tiveram, no Brasil, celebração tão expressiva quanto as celebradas na Matriz do Pilar, registradas em publicação do século XVIII que noticiou a Portugal as homenagens prestadas ao monarca defunto na Vila de São João. Entre essas homenagens, um mausoléu temporário no centro da nave da igreja.

Daquela época à metade do século XX, os tapetes de rua repetiam iconografias simples, utilizando flores, folhas, areia branca e serragem, nas procissões festivas, como Ressurreição, Corpus Christi e homenagens a Nossa Senhora. Principalmente flores vermelhas, amarelas e de outras cores fortes, como bico de papagaio, alegria bunganvília, fogo de mulher velha e monsenhor. As janelas das casas térreas e dos sobrados emolduravam o quadro bucólico, com toalhas rendadas e vasos de flores. Na rasoura de Nossa Senhora das Dores, em derredor da igreja do Carmo, manjericão, crista de galo e folhas de coqueirinho roxo apelavam para a memória olfativa e visual, pelo aroma e pela cor.

Os sinais de modernidade dos anos cinqüenta e sessenta marcaram São João del Rei, com arroubos de verticalização urbana, linhas retas e pilotis e pelo abandono a algumas tradições culturais. Sobretudo aquelas voluntárias e espontâneas, como os tapetes de procissão e outras manifestações que nos anos setenta do século XX já estavam inexpressivas.

Uma das ações visando despertar para essa perda foi a realização de várias edições da Exposição de Arte e Artesanato Edmundo Dantés Palhares. Visionariamente à frente desse projeto, Ângela Cordeiro, Maurício Popó, Jaime Vieira, Francisco Vieira, Miguel Bezamat e várias outras pessoas se dispunham tanto a identificar o que havia de mais significativo em termos de arte e artesanato na região quanto a viabilizar formas para que essa produção fosse exposta e comercializada na Semana Santa, para sanjoanenses e para turistas, já que é a época em que a cidade recebe o maior contingente de visitantes.

Santa Ceia no Cantinho da Canja

Tal qual nos tapetes do Largo de São Francisco, as exposições eram ponto de encontro onde os sanjoanenses - residentes e exilados - reconheciam a riqueza cultural de São João del Rei e discutiam fatos recentes que valorizavam ou degradavam o patrimônio e a memória da cidade. Em 1983 não foi diferente. Na Quinta-feira Santa, 31 de março, após o Lava-pés, conversávamos Ângela, Popó, Jaime, Rita Hilário, Mauro Marques e eu na casa mais antiga, onde estava montada a exposição de arte e artesanato, sobre o assunto acima, quando me veio a idéia de se recriar a tradição dos tapetes de rua, transformando-a em arte-manifesto. Minha proposta era começarmos naquele ano mesmo, reproduzindo em um grande tapete de areia e serragem, no Sábado de Aleluia, na Rua Santa Teresa, em frente à exposição, a capela do Bonfim. A idéia era ousada, pois não se tinha preparado qualquer material nem equipe, mas aos poucos outras pessoas foram se juntando na conversa e a proposta contagiou.

De lá fomos para o Cantinho da Canja, onde planejamos detalhadamente a operação, que deveria começar pedindo aos moradores da Rua Santa Teresa e arredores que, na Sexta-feira da Paixão, juntassem borra de café para tal produção. Quase clareava o dia quando “os trabalhos foram encerrados”.

Manhã de Sábado Santo, 2 abril de 1983. Na rua Santa Teresa, um grupo grande de crianças e jovens movimenta-se na ação criadora do primeiro tapete de rua da nova era. Os moradores participam ativamente, trazendo materiais que possam ser úteis na produção; ajudam no tingimento de areia e serragem e no preenchimento das cores; entusiasmam os criadores; se encantam com paisagem  que vai se revelando sobre o chão de pedra. O Jornal Hoje noticiou o falecimento de Clara Nunes. 4 da tarde. No balcão de madeira da casa mais antiga, pessoas se revezam para ver, do alto: o céu no chão!

Nos anos seguintes, o tapete itinerou: na Rua Getúlio Vargas, a igrejinha de Santo Antônio; no Largo do Rosário, o Cordeiro de Deus sobre o Livro dos Sete Selos (bela criação de Carlos Magno inspirado no medalhão do frontispício da Matriz do Pilar); em frente à Prefeitura, o Descendimento da Cruz; em frente ao Solar da Baronesa, o Anjo São Miguel.

Assim foi o início da história da nova era dos tapetes de rua de São João del Rei. O resultado de uma idéia solitária, que foi encampada por todos e se materializou na nova forma de expressão artística sanjoanense, que hoje, inclusive, é motivo de orgulho e já faz parte do calendário turístico e cultural da cidade.

Vale registrar que a comunidade do Senhor dos Montes também confecciona tapetes singelos - mas não menos belos ou importantes -, tornando ainda mais bucólicos os caminhos íngremes e crepusculares por onde passam, no primeiro domingo de todo setembro, os andores de seus santos padroeiros.


fonte: São João Del rei  Transparente - Antonio Emilio da Costa

sexta-feira, 21 de março de 2014

NOVIDADES!!

Olá leitor(a) do Blog Espaço Café com Biscoito!
Esse período foi corrido, tantos projetos,tantas coisas que estavam pendentes, tanto trabalho!
O lado bom é que teremos novidades aqui no Espaço Café com Biscoito.
No decorrer dos dias estarei apresentando-lhes cada uma.
Começarei  apresentando dicas de lugares a serem visitados na bela e histórica São joão del Rei, MG.
Como estamos na Quaresma e nos aproximando da Semana Santa  vale conhecer os Passos da Paixão de Cristo:


Os 5 Passos da Paixão de Cristo são oratórios de pedra e madeira, semelhantes a pórticos de igrejas coloniais, cuja fachada é contínua à das casas. Eles abrem apenas durante a Quaresma e a Semana Santa.
Nas procissões, os fiéis rezam diante deles e entoam preces, percorrendo a cidade em via -sacra.

* Passinho da Rua da Prata
* Passinho do Largo do Rosário
* Passinho do Largo da Cruz
* Passinho da Rua Direita
* Passinho do Largo da Câmara

sábado, 8 de março de 2014

UMA HOMENAGEM À MULHER

PINTURA DE "MULHERES" POR MAURICIO BARBOSA


“Compreendi que viver é ser livre… Que ter amigos é necessário… Que lutar é manter-se vivo… Que pra ser feliz basta querer… Aprendi que o tempo cura… Que magoa passa… Que decepção não mata… Que hoje é reflexo de ontem… Compreendi que podemos chorar sem derramar lagrimas… Que os verdadeiros amigos permanecem… Que dor fortalece… Que vencer engrandece… Aprendi que sonhar não é fantasiar… Que pra sorrir tem que fazer alguém sorrir…Que a beleza não está no que vemos, e sim no que sentimos… Que o valor está na força da conquista… Compreendi que as palavras tem força… Que fazer é melhor que falar… Que o olhar não mente… Que viver é aprender com os erros… Aprendi que tudo depende da vontade… Que o melhor é ser nós mesmos… Que o SEGREDO da vida é VIVER !!!”

“E umas das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi criadora de minha própria vida.”
( Clarice Lispector)